quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Botão de rosa...

É cair da noite e a cidade já começa se agitar, todos dirigem-se ao o salão da paróquia onde o Padre e o Coroinha da Matriz os recebem à porta.

O salão todo iluminado com luzes intermitentes, as bandeirinhas coloridas que cruzam a rua central da cidade de um lado a outro, as músicas que convidam as pessoas a procurarem seus pares para a grande dança em roda, a festa de junho é a mais esperada por todos na cidade e nas redondezas e os festejos se estendem por todos os finais de semana do mês.

Devido a grandeza da festa deste ano muitos jovens sentiram-se atraídos em participar dela, principalmente porque a brincadeira de mandar recados uns aos outros através de um garoto vestido de cupido permitia flertes com muito mais facilidade.

A festa estendeu-se noite adentro e Anabela sentia-se feia diante das amigas, todas haviam recebido ao menos um recado de algum admirador, ela não recebera nenhum. Era quase meia-noite e ela estava pensando em voltar para casa, sentia-se triste, rejeitada e a festa perdera o sentido para ela, quando recebeu um bilhete de um menino que não era o cupido.

“Desculpe, mas o cupido chamaria muito a atenção dos outros e a única pessoa que eu quero que me note é você, a mais bela, Anabela... Por favor, me encontre à beira do rio, Anabela, eu preciso que você saia dos meus sonhos para minha vida... BR”

Ela não imaginava quem poderia ser, nunca soubera de ninguém que fosse interessado nela. Quem a teria em seus sonhos e a chamava pelo nome?

Não conseguia decidir o que fazer, a curiosidade a corroia, o medo prendia suas pernas, mas seus coração pulsava como nunca sentira antes, precisava ir, precisava saber. Quem seria?

O caminho para o rio não era tão longo, porém deserto, principalmente porque todos estavam na festa ou já iam para suas casas pelo caminho oposto ao que levava ao rio, mas a garota foi mesmo assim, precisava saber quem era o seu misterioso admirador.

Percebeu mais rosas que de costume pelo caminho, percebeu principalmente muitas pétalas caídas. A luz da lua refletia fortemente no orvalho depositado entre as rosas, como pequenos olhinhos que a vigiavam, o rio lhe parecera um grande corrente prata, serpenteando floresta adentro.

Sentiu algo se aproximando vagarosamente às suas costas mas não teve coragem de se virar, uma mão surgiu à sua frente segurando um botão de rosa e uma voz ao seu ouvido...

“Me perdoe, bela Anabela, mas não posso ficar hoje, a festa já esta acabando. Encontre-me amanhã assim que a festa começar neste mesmo lugar, Anabela...”

Terminou de pronunciar seu nome como um leve sussurro, fazendo todos os pêlos do corpo de Anabela arrepiarem-se.

Ela nem teve tempo de se virar, ele já havia desaparecido em meio ao mar de rosas que floresceram como que por mágica naquela noite. Voltou pra casa e passou a noite em claro.

No dia seguinte Anabela não pensou em outra coisa senão no... vulto... No botão de rosa, na mão que a segurava, no punho do paletó branco, na aba do chapéu. O dia arrastou-se e Anabela sentia-se mais e mais atraída pelo admirador misterioso.

Finalmente o dia acabou, o comércio já fechava suas portas e as pessoas dirigiam-se às suas casas. Anabela correu pra casa, passou horas escolhendo a roupa que usaria para ir à festa, sua mãe a questionou sobre tanta empolgação e a menina apenas respondeu que a festa de junho era a melhor do ano.

A noite, quando a festa já estava cheia e as pessoas todas entretidas, Anabela se dirigiu ao rio, exatamente ao mesmo local da noite anterior. Sentia as mão frias, um calor que subia pela espinha, mal ouvia os sons da festa tamanho seu encantamento por seu admirador.

Daquela vez o caminho até o rio parecia infinito, quanto mais andava mais longo ele ficava e quanto mais corria mais demorava pra chegar. O caminho tinha ainda mais rosas, mas ela já não as via.

Ele já estava lá, somente pelo contorno de seu corpo contra a luz da lua ela sabia que era ele. O punho do paletó branco, o chapéu a o botão de rosa. Era ele!

Anabela se aproximou vagarosamente, ele estendeu a rosa em direção a ela e ela a pegou no mesmo instante em que ele a puxou pela mão e a levou para o mar de rosas à beira do rio.

A polícia encontrou o corpo de Anabela três dias depois, ela estava nua, uma rosa pousada sobre seio pálido, as marcas roxas em torno do pescoço denunciavam um enforcamento, o sangue em seu vestido denunciava que aquela havia sido sua primeira vez.

O bilhete que Anabela receberá na festa um dia antes de seu desaparecimento foi encontrado na bolsa da garota, mas a polícia nunca conseguiu descobrir quem era “BR”.